
O acidente vascular cerebral (AVC) é mais associado ao envelhecimento, mas também pode atingir pessoas jovens e apresentar sinais difíceis de reconhecer no início. No caso de Pedro Henrique Alves Vanil, 21 anos, o episódio começou de forma inesperada enquanto ele treinava na academia.
Na noite de 20 de outubro, Pedro sentiu uma dor de cabeça intensa acompanhada de mal-estar. “Estava na academia e comecei a sentir uma dor de cabeça muito forte, acompanhada de formigamento nos braços e ânsia de vômito. Senti que algo estava errado”, conta.
O desconforto evoluiu rápido. Ele ficou fraco, vomitou e precisou pedir ajuda para ser levado ao hospital. No caminho, as confusões mentais começaram. “Nunca passou pela minha cabeça que pudesse ser um AVC”, diz.
Em casa, ninguém imaginava que o jovem, que levava uma rotina tranquila entre o trabalho em um escritório de contabilidade e os treinos, pudesse enfrentar um problema tão grave. A família tem histórico da doença, mas Pedro nunca tinha apresentado qualquer sintoma semelhante.
Caso considerado gravíssimo
Assim que chegou ao pronto atendimento, os sinais vitais estavam estáveis, mas a palidez intensa chamou a atenção da equipe. A médica percebeu que Pedro estava confuso e pediu uma tomografia imediatamente. O exame confirmou o sangramento no cérebro, e o neurocirurgião foi acionado para colocar um dreno e aliviar a pressão.
Na manhã seguinte, em 21 de outubro, ele precisou passar por uma segunda cirurgia para alcançar o ponto exato do sangramento. O procedimento durou cerca de quatro horas.
Como o quadro ainda era delicado, os médicos explicaram à família que seria necessário induzir o coma para proteger o cérebro. Pedro ficou sedado até o dia 28. “Os médicos não tinham nada positivo para dizer à minha família. Meu caso era considerado gravíssimo”, lembra.
O diagnóstico revelou uma malformação arteriovenosa (MAV), condição que costuma permanecer silenciosa até causar um sangramento. Mesmo com a gravidade do episódio, Pedro não desenvolveu sequelas motoras ou cognitivas importantes.
“Tenho alguns episódios de esquecimento, mas com estímulos vou lembrando. A fisioterapia tem ajudado muito no movimento e no equilíbrio”, explica.
AVC em jovens tem se tornado frequentes
A médica neurologista Thaís Augusta Martins, coordenadora de neurologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, explica que situações assim têm se tornado mais frequentes entre jovens adultos. Segundo ela, fatores como sedentarismo, hipertensão, diabetes, tabagismo e uso de álcool colaboram para o aumento de casos, mas outras condições também precisam ser investigadas.
“Quando estamos diante de um AVC em paciente jovem, fazemos uma ampla investigação para causas reumatológicas, hematológicas, hereditárias e cardiológicas”, diz.
Thaís reforça que a rapidez é determinante. “Boca torta, perda de força de um lado do corpo e dificuldade para falar são sinais clássicos. Há ainda tontura súbita, visão dupla, dor de cabeça muito intensa e perda de sensibilidade. A identificação imediata é fundamental, pois a cada minuto neurônios são perdidos”, explica.
No caso do AVC hemorrágico, como o de Pedro, as MAVs são uma das causas possíveis. “São vasos malformados e emaranhados no cérebro, e sua primeira manifestação pode ser o sangramento”, afirma a neurologista.
Desde a alta, Pedro segue em reabilitação e não pode fazer esforços. Ele tem feito fisioterapia e procura um acompanhamento especializado. A ideia é avaliar com mais profundidade a malformação e definir o tratamento definitivo. Mesmo com a recuperação em andamento, ele sabe que a rotina mudou. “O AVC passou, mas o tratamento continua”, conta.
Recuperação em jovens
Thaís destaca que jovens têm maior capacidade de recuperação pela plasticidade cerebral. Por isso, o acompanhamento multidisciplinar é parte essencial do processo. “Fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e psicologia fazem diferença na melhora e na qualidade de vida”, afirma.
Pedro hoje tenta retomar o ritmo com cuidado e entende que reconhecer os sinais pode salvar vidas. “Foi totalmente inesperado. Não imaginava algo tão grave acontecendo comigo”, relata. O episódio virou alerta para ele e, agora, para outros jovens que raramente associam sintomas súbitos a um AVC.
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